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Jovem negro diz ter sido torturado ao tentar comprar celular em supermercado de Maceió

A Polícia Civil informou que vai requisitar imagens das câmeras de segurança sobre o episódio Um jovem negro de 19 anos de Maceió, capital d...

A Polícia Civil informou que vai requisitar imagens das câmeras de segurança sobre o episódio

Um jovem negro de 19 anos de Maceió, capital de Alagoas, afirma ter sido torturado por quase três horas, com agressões no rosto, em um supermercado na manhã do último sábado (21), quando tentava comprar um celular. Ele não quis se identificar.

O rapaz, que é jardineiro, registrou boletim de ocorrência no mesmo dia. A reportagem questionou o IML (Instituto Médico-Legal), órgão ligado à Polícia Civil, sobre o caso, que informou por meio da assessoria de imprensa que o exame de corpo de delito indica “um edema na face e escoriações no punho”.

A Polícia Civil informou que vai requisitar imagens das câmeras de segurança sobre o episódio. O boletim de ocorrência foi registrado dois dias após José Alberto Silveira Freitas, 40, ter sido espancado e morto por seguranças em um supermercado da rede Carrefour de Porto Alegre (RS), em um caso que repercutiu no país, na véspera do Dia da Consciência Negra.

O supermercado, no bairro do Tabuleiro, pertence à rede G Barbosa, presente no Nordeste. A rede afirmou, em nota, que o rapaz foi pego furtando um celular -o que ele nega. Mas a própria empresa disse no mesmo comunicado que a Polícia Militar, ao ser acionada para o local, liberou o jovem por falta de flagrante.

Já o jovem diz que levava dinheiro em espécie para comprar um celular. Enquanto escolhia o aparelho, ainda segundo ele, um homem se identificou como policial e o acusou de ter cometido um assalto em um dia anterior.

“Quando cheguei lá, não demorou muito e um homem me pegou pela cintura, dizendo que era policial, e que eu tinha roubado dois celulares. Falei que não tinha roubado, mas me levaram para uma sala e começaram a me bater”, disse o jardineiro à reportagem. “Até mostrei o dinheiro que tinha do auxílio [emergencial], mas o homem disse que eu tinha conseguido esse dinheiro depois de vender os dois telefones roubados”.

Ainda pelo relato do jovem, o homem, então, o levou para uma sala, dentro do supermercado, e o agrediu por quase três horas, principalmente com golpes na cabeça. Foram socos e tapas no rosto, e até um saco plástico foi colocado na cabeça dele, conta a vítima.

O jardineiro disse haver outros dois homens na sala, que aparentavam ser funcionários do supermercado, e que assistiram às agressões do suposto policial.

O jovem conta que foi obrigado a gravar um vídeo admitindo o crime que não cometeu. Depois, ainda segundo contou, policiais militares chegaram ao local e o liberaram.

“É constrangedor que isso tenha acontecido. Humilhante. Estavam três pessoas na sala comigo e o gerente da loja estava no corredor. Só uma pessoa bateu em mim. Ninguém pediu que ele parasse”, contou o rapaz.

O laudo pericial deve ser concluído em dez dias. A assessoria da Polícia Civil disse que foi aberto inquérito e que serão ouvidas as testemunhas, acusados e a vítima. Ainda segundo o órgão, é cedo para definir alguma tipificação de crime.

A mãe do jardineiro disse à reportagem que, por volta das 14h do sábado, passou a ficar preocupada, porque o rapaz havia saído de casa perto das 10h, sem lhe dar notícias.

“Ele chegou em casa com marcas de tapa no rosto, além de machucados nas costas e no pescoço. Quando a gente vê isso, fica pensando: ‘Parece que negro não pode existir no Brasil. Aqui é lugar só para branco’. Eu sou cardíaca, então acho que eles quiseram me contar pouco no começo. É muito doloroso”, disse ela.

O advogado Basile Christopoulos, que defende o jardineiro, afirmou que a família vai processar o supermercado.

OUTRO LADO

A rede GBarbosa afirma, por nota, que o jovem furtou um aparelho celular conforme as imagens que eles têm no circuito interno de câmeras. Ele foi reconhecido por testemunhas porque esteve lá em horários distintos, segundo a empresa, e foi abordado.

A Polícia Militar foi acionada e, segundo a empresa, o liberou por falta de flagrante. A rede GBarbosa fez um boletim de ocorrência no sábado, sobre o suposto furto.

A GBarbosa diz ainda está apurando internamente se houve agressões e liberará as imagens do circuito de TV interno para que a Polícia Civil prossiga com as investigações.

Fonte Jornal de Brasília