Vilmar Kalunga se elegeu 1º prefeito quilombola da cidade de Cavalcante (GO), região com maior comunidade de quilombos do Brasil Vilmar Kalu...
Vilmar Kalunga se elegeu 1º prefeito quilombola da cidade de Cavalcante (GO), região com maior comunidade de quilombos do Brasil
Vilmar Kalunga (PSB) entrou na política em 2016. Apostou na candidatura para vice-prefeito de Cavalcante, região norte de Goiás, a pouco mais de 300km de Brasília. Perdeu para um adversário autodeclarado “pardo”, o ex-prefeito Josemar Saraiva Freire (PSDB). Vilmar ainda não se sentia representado, bem como sentia falta da representação política de sua gente. “Município com 80% da população quilombola não ter um político da comunidade?”, questionou ele. Optou por tentar novamente concorrer à prefeitura. Agora, na liderança de sua chapa.
Foi nessa segunda tentativa, nas eleições municipais deste ano, que o representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) sagrou-se vitorioso no pleito. É o 1º prefeito quilombola em uma região que concentra mais de 10 mil descendentes de quilombos, a maior comunidade no Brasil.
“Sempre participei da política social, dentro da comunidade, foi minha faculdade. Mas a vontade de lutar pelos nossos direitos é mais antiga”, disse Vilmar Kalunga (PSB) em entrevista ao Jornal de Brasília.
As eleições de 2020 registraram o número inédito no Brasil de mais candidatos autodeclarados como não-brancos do que brancos. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os negros representam 49,9% dos candidatos das eleições deste ano – 215 mil candidatos pardos e aproximadamente 57 mil autodeclarados pretos. Os candidatos brancos somam 47,8%. Ressalta-se que pretos e pardos são considerados negros, segundo classificação utilizada pelo IBGE.
Foi a primeira vez, desde que o tribunal passou a coletar informações de raça, em 2014, que a representatividade se assemelha aos registros de raça e cor dos índices nacionais. São 56,10% da população brasileira que se declarou negra segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE) realizada em 2019.
“Agente foi sempre esquecido. É uma dificuldade danada, sempre é negado nosso direito. Somos procurados na hora que querem o voto. Depois de ser votado, ninguém dá confiança pra gente”, disse Vilmar Kalunga sobre a sua experiência nas eleições que participou.
A história de Vilmar destoa do restante do entorno do Distrito Federal. Foram muitos candidatos autodeclarados negros e poucos efetivamente eleitos nas disputas para o legislativo. Em Formosa, município mais populoso no contorno do DF, foram 23 candidatos negros. Destes, somente um pleiteou a prefeitura da cidade. Natanael Caetano do Nascimento, conhecido como SD Caetano, do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Caetano ficou em último lugar, o ganhador foi o Gustavo Marques (PODE) com 37% dos votos.
Em Planaltina (GO), o Avante computou o maior número de candidatos negros no TSE. Foram 22 autodeclarados pretos ou pardos na disputa a uma vaga na Câmara Municipal. Outra cidade com um único candidato autodeclarado negro, cor preta, à prefeitura da cidade. Ele ficou em último lugar nas pesquisas: Bernardo Xavier (PSOL) ficou com 0.39% dos votos. O ganhador foi o Delegado Cristiomario (PSL) com 33,24% da contagem total.
A participação da população negra nas duas cidades do entorno continua próxima do limite mínimo estabelecido pela lei (30%), além de negros e pardos prevalecerem no pleito a vereador municipal. Porém, há uma perspectiva de mudança para os novos políticos. Vilmar Kalunga, prefeito eleito da cidade de Cavalcante (GO) confia no diálogo e na cooperação mútua sem qualquer distinção. “Eu sei da responsabilidade que é muito grande. O objetivo é unir o povo”, ressalta o representante quilombola.
Fonte Jornal de Brasília