Com fomento exclusivo do FAC, longa é 100% de Brasília, turbinado pelo fomento de três linhas de apoio à cultura. É uma nova abordagem sobre...
Com fomento exclusivo do FAC, longa é 100% de Brasília, turbinado pelo fomento de três linhas de apoio à cultura.
É uma nova abordagem sobre tema conhecido. O mundo da especulação imobiliária entrelaçado por negociatas, o desrespeito com a mão de obra operária, problemas habitacionais, enfim, a conturbada relação de classes. O que coloca por terra, de certa forma, o sonho urbanista e arquitetônico da capital do país pensando lá atrás. Eis o mote do filme “New Life S.A.”, de André Carvalheira, que estreia em 21 praças de cinema do país nesta quinta-feira (03). Além de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, o longa-metragem irá percorrer o circuito de algumas cidades do interior brasileiro.
“É quase uma paródia da história da cidade, e desse confronto utopia versus realidade”, explica o diretor, que realiza aqui seu primeiro longa-metragem, após anos fotografando os trabalhos de outros cineastas. “Realmente, fazia tempo que não dirigia um filme. Foi interessante estar nessa posição, consegui realmente mergulhar no processo e entender bem os tempos e as demandas do set, acho que muito pela minha experiência na fotografia”, comenta Carvalheira, que fotografou trabalhos de Adirley Queirós e Silvio Tendler, por exemplo.
O projeto, que vinha dançando na cabeça de Carvalheira desde 2006, é 100% de Brasília, turbinado pelo fomento de três linhas de apoio de distintos editais do FAC Audiovisual, do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal: desenvolvimento, produção e distribuição. O primeiro tratamento do roteiro foi escrito a quatro mãos com o crítico e professor Pablo Gonçalo. A versão final contou com a colaboração do roteirista de televisão e também acadêmico Aurélio Aragão. O resultado é uma trama que flerta com o cômico – mas de maneira nervosa, já que a crítica é evidente ao expor o que há de mais pobre da nossa sociedade -, assim como com elementos de suspense e drama social.
"É quase uma paródia da história da cidade, e desse confronto utopia versus realidade"André Cavalheira, diretor
“Trabalhar com outros parceiros foi fundamental para desenvolver a história como está no filme”, comenta Carvalheira, que exibiu o filme na 51ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB), vencendo o Prêmio de Melhor Filme na Mostra Brasília. “Gosto muito de escrever a história no início e depois passar para outra pessoa. Minha criatividade funciona melhor em conjunto”, confessa o diretor, que agora trabalha no roteiro de novo projeto, uma ficção científica que se passa no campo, chamada “Ouro Verde S/A”.
O vazio da vitrine
O título do filme, uma referência também ao clássico “São Paulo, Sociedade Anônima” (1965), de Luís Sérgio Person, é pura provocação. Uma elegante ironia sintetizada, entre outras cenas, por exemplo, na passagem do grupo de atores contratado pela empreiteira para encenar essa “nova vida” que o futuro condomínio de luxo pretende oferecer. Mas tudo ali, como no resto do filme, é pura enganação. Puro vazio diante de uma vitrine que não reflete em nada as agruras da vida real. O que explica, de certa forma, o conceito visual de “New Life S.A.”, com a câmera, como que diante de um mostruário, se afastando, lentamente, do que a plateia vê.
“Um dos conceitos que levantamos juntos para a imagem, e que vejo no filme, é o de retratar esses personagens como se eles estivessem numa vitrine”, explica Carvalheira. “São várias situações que trazem essa ideia de mundos isolados em suas bolhas de vidro”, reforça.
Assim, aos poucos, os personagens dessa história farsesca que, segundo André Carvalheira, só poderia acontecer em Brasília, vão dando suas caras, desenhando, aqui e acolá, um Brasil que, infelizmente, ainda está longe de dar certo. “Essa história só funciona aqui e seria totalmente diferente se fosse de outra cidade”, garante. “Para mim, o ambiente é fundamental e influencia a história”, completa o diretor, que filmou no Noroeste, Plano Piloto e Lago Sul.
Na história, Renan Rovida (“Arábia”) é Augusto, um arquiteto em ascensão nada satisfeito com a falta de lisura e transparência do sogro Rubens (Murilo Grossi), sócio do empreendimento babilônico, diante dos negócios. “Temos que aprender a fazer mais com menos”, argumenta o coroa, quando questionado sobre a qualidade da estrutura do prédio.
Com lançamento planejado para acontecer nas capitais brasileiras e em algumas cidades do interior paulista, “New Life S.A.” conta com elenco esmagadoramente formado por atores locais. Em cena, apenas Renan Rovida não é da cidade. O que prova que o DF, já faz um bom tempo, não apenas realiza premiadas produções, mas conta também com nomes de peso na atuação, como o já citado Murilo Grossi, Catarina Accioly, Wellington Abreu, Edu Morais, Juliano Coacci, André Deca, entre tantos outros.
“Isso é maravilhoso! É muito importante que os diretores da cidade privilegiem os atores locais. Brasília tem grandes nomes e tem formado atores para o cinema brasileiro, é ótimo termos essa visibilidade”, avalia André Deca, que no filme vive um político em campanha, sócio da construtora. “Já tinha trabalhado com Carvalheira em algumas produções, mas ele atuando como Diretor de fotografia. Foi uma grata surpresa tê-lo como Diretor do filme. Um diretor sensível, carinhoso e que te deixa muito à vontade no set. O resultado está na tela”, resume o artista, que tem este ano completa 30 anos de carreira.
Confira o teaser do filme: