Mapeamento havia começado em 2019, mas foi interrompido em função da pandemia. Uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Medicina Tropical da Un...
Mapeamento havia começado em 2019, mas foi interrompido em função da pandemia.
Uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Medicina Tropical da Universidade de Brasília (UnB) procura rastrear a dinâmica e os locais de maior incidência da dengue, zika e chikungunya pelo Distrito Federal de forma a traçar o mapa dessas doenças. O projeto se iniciou no final de 2019, mas teve que ser interrompido em função das dificuldades provocadas pela pandemia.
A pesquisa é feita a partir da procura de voluntários, escolhidos aleatoriamente com base em sorteios na base de dados do governo federal. Uma equipe vai até a residência do sorteado, que é convidado a participar. Caso aceite, recebe um formulário a ser preenchido verificando seu histórico em relação às doenças que a equipe busca rastrear, e em seguida é colhida uma amostra de sangue para verificar se há a presença dos anticorpos característicos.
Walter Ramalho, coordenador da pesquisa, explica que é necessário fazer esse levantamento por meio da coleta de sangue porque já se perdeu o controle dos dados relativos à essas doenças. “Antes quando uma pessoa contraía essas doenças, ela procurava o posto de saúde, que era notificado sobre o caso. Mas na medida que a forma menos grave dessas enfermidades foi ficando conhecida, as pessoas foram deixando de procurar o posto de saúde. Isso faz com que aumente a distância entre o que se notifica e o que existe na realidade. Essa pesquisa nos permite ter maior precisão ao tentar descobrir o quão difundidas estão essas doenças no Distrito Federal”.
Previsão de surtos
Além de permitir o conhecimento mais preciso da situação dessas doenças, o mapeamento permite traçar cenários que permitam antecipar as políticas públicas de enfrentamento. “Nós já vimos por exemplo que existe uma grande incidência de anticorpos IGM para chikungunya na região de Taguatinga e Ceilândia. Isso quer dizer que há uma maior circulação do vírus nessas cidades, onde 8% da amostra teve resultado positivo. Isso nos alertou que a chikungunya é o vírus que está circulando com maior intensidade no Distrito Federal, e pode ser que a gente venha a identificar um surto dela no próximo verão”, relata o coordenador.
A identificação das doenças por meio da coleta de sangue também permite diferenciar de forma eficaz os surtos ocorridos, que são difíceis de identificar pelos sintomas. “As formas mais leves dessas doenças são muito similares: há febre, rash cutâneo, dor de cabeça e dores no corpo. E muitas vezes, como a gente não faz o exame, a gente não sabe qual que é o vírus que provocou essa doença”, esclarece Walter.
A identificação dessas doenças se mostra importante para que as autoridades de saúde consigam lidar melhor com pacientes que desenvolvam as formas graves, que possuem características e complicações distintas: a zika está associada a complicações na gravidez ao provocar microcefalia no bebê, e o chikungunya pode provocar problemas motores, principalmente em pacientes idosos. Já a dengue, quando ocorre uma segunda infecção em um curto espaço de tempo em relação à primeira, pode evoluir para a sua forma hemorrágica.
Atuação em São Sebastião
A equipe de pesquisa já colheu amostras em quase todo o Distrito Federal antes da pandemia, e agora atua procurando voluntários em São Sebastião e no Jardim Botânico. O principal obstáculo, de acordo com Walter, é convencer os moradores a participar. “Em uma sociedade complicada como a que vivemos hoje, é comum as pessoas duvidarem da índole daqueles que chegam perto das suas residências, ainda mais para coletar uma amostra de sangue”, afirma.
O professor destaca que a preocupação não é necessária. Todos os membros da equipe são profissionais de saúde, atuantes na área de enfermagem ou biomedicina, e possuem aptidão para fazer a coleta de sangue. O equipamento utilizado para isso também é apropriado, sendo o mesmo material adotado nos principais laboratórios do DF e previamente esterilizado. Todas as equipes possuem uniforme e crachá de identificação, além de fornecerem o número da UnB para caso o morador queira ligar para se certificar.
Os resultados dos exames de sangue são devolvidos aos participantes, e o relatório final da pesquisa será enviado à Secretaria de Saúde do Distrito Federal para que possam utilizar as informações em suas políticas públicas. As informações pessoais dos pacientes não farão parte do relatório. A previsão é para que a pesquisa esteja concluída em janeiro de 2021.
Fonte Jornal de Brasília