Dois eventos no Memorial dos Povos Indígenas (MPI) desta sexta-feira (27) a sábado próximo colocam os temas “memória, história e ancestralid...
Dois eventos no Memorial dos Povos Indígenas (MPI) desta sexta-feira (27) a sábado próximo colocam os temas “memória, história e ancestralidade” no topo da agenda do patrimônio material e imaterial do Distrito Federal. O espaço da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) abriga nesses três dias o Festival Agô – Música e Ancestralidade e o Seminário Fealha, que receberam aporte do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).
Os eventos combinam apresentações musicais, debates e feiras, reverenciam a presença indígena no DF e prestam homenagens à cultura de comunidades quilombolas e práticas de terreiro ligadas ao Candomblé e à Umbanda. A entrada é gratuita. Os recursos do FAC, de editais de 2021, somam R$ 160 mil, gerando 135 empregos diretos e 370 indiretos.
“A presença indígena no Distrito Federal é negligenciada. Porém, hoje sabemos que é parte fundamental do processo construtivo da identidade do nosso quadradinho. Não somos apenas o centro do poder político, onde os indígenas vêm pleitear seus direitos, somos a morada ancestral de diversas populações”, afirma o subsecretário do Patrimônio Cultural, Felipe Ramón.
O gerente do MPI, David de Oliveira Terena, que traz no nome a etnia do seu povo, festeja a realização: “Essa iniciativa mostra que, além de memória, o MPI se movimenta para discutir as heranças indígenas como coisas vivas. É também um local de pesquisa e ciência”. O Memorial recebe média de 4 mil visitantes por mês.
Outras Brasílias
Os eventos no MPI darão ao público a oportunidade de pensar a história de Brasília fora da narrativa hegemônica construída em torno de grandes personagens e grandes efeitos, um dos problemas da historiografia oficial, que imprime em livros didáticos simplificações e apagamentos.
A professora de História da Universidade de Brasília (UnB) Cristiane Portela coordena o projeto Outras Brasílias, em cooperação com a Faculdade de Educação. A pesquisa busca jogar luz sobre aspectos da história da capital que foram negligenciados no esforço de construção da cidade. Ela vai falar nesta sexta-feira (28) sobre a pesquisa que encabeça.
“Minha fala contemplará a necessidade de pensar narrativas sobre o DF a partir da noção de sujeitos coletivos, que nos indicam outras maneiras de pensar a história do capital”, explica ela. A docente trabalha conceitos como “território luta” e “território útero”, que operam na contramão da historiografia hegemônica, buscando outros sentidos para a ideia de ocupações, sejam as originais, sejam as que se formaram a partir de processos históricos.
A indígena Potyra Terena, de etnia presente no Mato Grosso, é professora da Secretaria de Educação do DF e representante dos povos originários em vários coletivos. Ela destaca que o Festival Agô (“licença”, em Yorubá) serve para levar música e promover o debate sobre ancestralidade e presença indígena em Brasília. Explica que Fealha, título do seminário, significa “terra sagrada” no idioma do povo Fulni-ô, de Pernambuco.
“Para os indígenas, as memórias ancestrais têm muita importância, pois toda a existência é a resistência feita por memórias de lutas territoriais. Conhecer ‘Outras Brasílias’ é reconhecer que esse território sempre teve a presença indígena em trajetórias de lutas e conquistas”, afirma.
“As músicas cantadas pelas comunidades tradicionais são vividas de forma muito completa e complexa. A música vem com a língua, a dança e carrega a identidade de cada povo. Nosso compromisso é mostrar esse conjunto complexo que a música carrega”, ressalta a diretora do Festival Agô, Tâmara Jacinto.
Destaques
Entre as atrações do Festival Agô, está o coletivo Ponto Br, que traz alguns dos chamados guardiões de culturas tradicionais brasileiras: Mestre Walter (Raízes da África – PE), Mestra Zezé de Iemanjá (Casa Fanti Ashanti – MA) e Ribinha de Maracanã (Bumba Boi de São Luís – MA). Eles dialogam com artistas conhecidos da cena contemporânea, como a paulistana Renata Amaral, o pernambucano Eder O Rocha, o suíço Thomas Rohrer e o maranhense Henrique Menezes.
O grupo Orí (cabeça, em Yorubá), de Pernambuco, apresenta músicas tradicionais de religiões de matrizes africanas e afro-brasileiras das nações Xambá e Nagô. Por meio de instrumentos melódicos, harmônicos e componentes eletrônicos, os músicos revelam a ancestralidade dos cantos e toques sagrados do Xangô Pernambucano, realizados principalmente para equilibrar e alimentar o Orí.
Apadrinhado pelo maestro Letieres Leite (educador, compositor e arranjador baiano, falecido em 2021), o grupo é formado por Beto da Xambá (violão), Memé da Xambá (voz), Thulio Xambá (cavaquinho), Nino da Xambá (flauta) e Tayna Hirlley (piano). No palco do Festival Agô, eles recebem a cantora Cris Pereira, uma potente voz do samba de Brasília.
Os povos indígenas estarão presentes no Festival Agô por meio do canto do povo Fulni-ô e das mulheres indígenas do Alto Xingu. A principal aldeia Fulni-ô do Brasil fica próxima à cidade de Águas Belas (PE) e há também um território no noroeste de Brasília (DF): a Terra Indígena Santuário dos Pajés, um símbolo da luta contra a especulação imobiliária na capital federal.
As mulheres indígenas do Alto Xingu vêm do Mato Grosso para compartilhar parte do que é a Yamurikumã, uma festa ritual realizada por mulheres indígenas pertencentes às nove etnias do Alto Xingu. Durante todo o período da festa, as mulheres dominam o poder da aldeia, se adornam, cantam versos de canções tradicionais, lutam Huka Huka e realizam atividades que, em outros contextos, seriam permitidas apenas aos homens.
Ingressos para o show Festival Agô (entrada gratuita) aqui.
Inscrição para o seminário Fealha aqui.
Com informações de Secretaria da Cultura e Economia Criativa (Secec)