Cyberwar: Neon City/Cyber Monkey Studios/Divulgação “E se existisse um Planeta dos Macacos cyberpunk e brasileiro?” Essa foi a pergunta qu...
“E se existisse um Planeta dos Macacos cyberpunk e brasileiro?”
Essa foi a pergunta que um pequeno grupo de desenvolvedores fez há pouco mais de dois anos, dando origem ao projeto que se tornaria Cyberwar: Neon City, um dos jogos indie mais aguardados atualmente no cenário nacional.
Em poucas palavras, Cyberwar: Neon City é um shooter do gênero roguelite, com temática cyberpunk, arte pixelada e câmera top-down (ou seja, vista de cima). Em um mundo futurístico que narra a história de uma guerra entre humanos e macacos cibernéticos, o objetivo é superar fases que colocam o jogador como alvo em cenários caóticos, repletos de inimigos e chefões.
O game é o primeiro projeto do estúdio Cyber Monkey Studios, que chamou a atenção nas redes sociais com “devlogs” no canal “Crie Seus Jogos”, compartilhando vídeos com atualizações e curiosidades do desenvolvimento de Cyberwar: Neon City. Assim, o jogo conquistou uma comunidade antes mesmo do lançamento e também arrancou elogios com uma demo gratuita no Steam.
Por trás de tudo isso, está uma pequena equipe de brasileiros de diferentes estados, desde Minas Gerais até Belém do Pará, que trabalha duro de forma remota, mas tão empolgada quanto a própria comunidade que já espera ansiosamente por Neon City.
Em constante evolução
Poucos minutos bastaram para sentir a animação contagiante entre os desenvolvedores da Cyber Monkey Studios, durante um papo com o NerdBunker. Ao todo, são cinco brasileiros que trabalham em Cyberwar: Neon City e, como é uma equipe enxuta, cada um cuida de uma tarefa diferente.
A ideia de fundar um estúdio para criar um jogo partiu do brasiliense Wenes Soares, criador do “Crie Seus Jogos”, que atua como o único programador (pois é!) do jogo.
Wenes tinha a vontade ambiciosa de criar um RPG de mundo aberto, com uma história de terror protagonizada por uma personagem feminina. Com essa ideia em mente, ele precisava de uma equipe e, pouco depois, se juntou a dois artistas que ajudariam a dar cara ao projeto: Renan Calixto, conhecido como “Capitão Dinossauro”, que é roteirista e artista de pixel art; e Gilliard Andrade, responsável por animar e dar vida aos personagens.
Mas eles precisavam ser realistas. A ideia de Wenes era empolgante, mas um tanto complicada para ser executada com uma equipe indie e pequena. O projeto demoraria demais para sair do papel.
A solução, então, foi diminuir o escopo, mas não a ambição. Eles optaram por criar um roguelite, gênero focado em fases procedurais e geradas aleatoriamente, o que estica a longevidade e o conteúdo de um jogo. Isso, somado à ascensão do gênero cyberpunk com uma ajudinha de Cyberpunk 2077 e algumas inspirações pessoais da equipe, levou ao conceito de Cyberwar: Neon City.
“Começamos a evoluir as ideias e amadurecer os conceitos. Eliminamos o mundo aberto porque é muito difícil lidar com essa estrutura em pixel art. Sentimos isso mexendo no Cyberwar antigo. […] Então, no meio de um brainstorming, chegamos na ideia do Planeta dos Macacos. Pensamos: ‘E se existisse um Planeta dos Macacos cyberpunk?’. Demorou um pouco, mas evoluímos a partir dessa ideia para o que o jogo é hoje”, explicaram.
Com uma ideia concreta e viável, a equipe cresceu mais um pouco, com dois reforços. O artista Luiz Fellipe, apelidado de “Bruce” (porque, segundo os colegas, ele é o Batman da equipe e está preparado para tudo), que cria as artes que não são em pixel art, como a interface de usuário (UI), cutscenes, menus e retratos estáticos dos personagens. E Éverton Luiz, designer de áudio que é responsável pela trilha sonora e sons gerais.
Assim, o projeto começou a tomar forma nas mãos de uma equipe formada por desenvolvedores e artistas de diferentes regiões do Brasil, que batem na tecla que estão evoluindo (e muito!) com o próprio projeto. “A equipe toda cresceu muito com o projeto em todos os sentidos. […] Se comparar com nossos protótipos antigos, a evolução é absurdamente grande. O jogo deu um salto de qualidade incrível”, completa Wenes.
Um cyberpunk diferente
Com a equipe, a ideia e a vontade nos lugares certos, o desafio se tornou trabalhar duro no jogo e dar uma identidade a ele. O que chama a atenção logo de cara em Cyberwar: Neon City é a arte pixelada e o design inusitado de personagens, chefes e cenários — o que é algo totalmente proposital dos desenvolvedores, que querem apresentar uma versão diferente, bem-humorada e levemente “nonsense” da temática cyberpunk.
“Tenho muita inspiração em One Piece, que tem uma veia cômica e ‘nonsense’, mas uma trama muito séria. Você mistura duas coisas opostas em uma só, e gosto muito disso. Então puxei a história [de Cyberwar] para um lado dramático e optei por um caminho chamativo e cartunesco para a arte […] Sinto que o cyberpunk se leva muito a sério, então queríamos uma pegada mais descontraída”, explica Renan.
A ideia era subverter as expectativas do que as pessoas esperam de um game cyberpunk e surpreendê-las, de uma forma que fizesse sentido com a narrativa e a jogabilidade. Os chefes têm visuais e padrões de ataque, por exemplo, que são propositalmente malucos e inusitados, impedindo que o jogador consiga prever o que eles vão fazer e, ao mesmo tempo, revelando uma característica de Neon City.
Segundo os desenvolvedores, o processo de criação de tudo isso é um “brainstorming” sem filtros, ou seja, todos os membros da equipe colocam as ideias que surgem à mente na mesa. “É um processo de muito ‘não’ até chegar no ‘sim’”, conta Renan. Uma criação específica citada por eles foi um chefe inspirado no próprio artista do jogo.
“Sempre soltamos todas as ideias que pensamos, sem filtros. Teve um dia em que eu soltei a ideia de colocar o Renan como um chefe, porque considero ele como um cara fisicamente exótico. [risos] Então pensamos em todas as coisas que o Renan gosta. Depois, no final, lapidamos as ideias e saiu aquilo ali!”
O resultado é uma mecha inspirada no rosto de Renan, movida por um macaquinho batendo pratos e, como o artista é mineiro, foi colocada dentro de um… queijo! Veja:
Além de um chefão mineiro, os desenvolvedores também prometem easter eggs de obras da cultura pop e muitas referências brasileiras espalhadas por Neon City, com direito até ao Baianinho de Mauá como um jogador de sinuca dentro do jogo.
Apesar da pegada “nonsense”, a equipe toma cuidado para que cada personagem e elemento faça sentido dentro da trama e do que é possível dentro desse universo futurístico. Portanto, quase tudo é justificado pela própria narrativa do jogo.
Um exemplo é o protagonista que, por ser um clone, faz com que a morte seja uma parte orgânica do gameplay. Detalhes aparentemente pequenos também têm o mesmo tratamento, como um simples tapete no cenário poder apresentar enigmas e pistas sobre a história, e o fato de todos os personagens terem olhos pretos não é mera coincidência.
Curiosamente, o maior desafio do desenvolvimento é diferente para cada membro da Cyber Monkeys Studios. Wenes citou que ser o único programador de um roguelite dá bastante trabalho, Renan contou que reescreveu a história mais de 20 vezes, e “Bruce” quebrou a cabeça para criar as interfaces únicas de cada área do jogo.
Por fim, Gilliard completou com as dificuldades que estúdios indie costumam encontrar ao criar um projeto independente, como orçamento limitado e falta de tempo, uma vez que todos têm outros trabalhos e precisam equilibrar o dia a dia para trabalharem em Cyberwar: Neon City.
Um Enter the Gungeon brasileiro
Em relação à jogabilidade, os desenvolvedores explicam que o jogo será focado em fases no estilo bullet hell, ambientadas dentro de um prédio com diferentes andares e temáticas variadas. O objetivo é superar todas as fases em sequência e sem ser derrotado, enfrentando inimigos e chefões que são gerados aleatoriamente a cada tentativa — algo similar a uma mistura entre Enter the Gungeon e Hades, que serviram de inspiração para o projeto.
Mas os jogadores que não são muito fãs de roguelite podem respirar aliviados, porque Cyberwar: Neon City terá mecânicas que vão manter a sensação de progressão intacta. O protagonista tem uma árvore de habilidades e outros sistemas de atualizações permanentes, que aumentam o dano, a velocidade e outras características do personagem.
“A ideia é que, entre as tentativas, você consiga evoluir seu personagem por meio das skill trees e outras mecânicas, como o tatuador cego e o polvo desafiador. Assim, quando você tentar de novo, estará mais forte e vai superar as fases mais rápido”, explica Wenes.
Além do protagonista, também é possível evoluir o próprio cenário de certa maneira. Existe uma área inicial, apelidada como “nível zero”, que serve como uma área segura para o jogador explorar, conversar com NPCs e fazer upgrades.
Ao avançar pelas fases, é possível encontrar personagens perdidos que, ao serem salvos e “desbloqueados”, vão para o “nível zero” ou abrem lojas de itens e cura que podem ser encontradas no meio das runs.
Espera pela guerra cibernética
“A ideia é entregar o melhor jogo do mundo para nós mesmos. […] Estamos dando nosso melhor com o que temos em mãos e vamos entregar um jogo com a qualidade máxima que conseguirmos” foi uma frase dita por Wenes durante o papo, servindo como a melhor representação do sentimento da equipe da Cyber Monkey Studios.
Os desenvolvedores revelaram que Cyberwar: Neon City não será lançado em 2023, mas chegará no primeiro semestre de 2024, para PC e Nintendo Switch a princípio — apesar de existir a vontade de levar o jogo para outros consoles, o que ainda não é certo no momento.
Com uma equipe enxuta em quantidade, mas encharcada de ideias, os desenvolvedores afirmaram que continuam trabalhando duro em Neon City, que ainda vai levar um tempinho para chegar. Mas tenho a impressão de que a espera valerá a pena.
Fonte Jovem Nerd