Apenas 1% dos estudantes no país conseguiram os níveis 5 ou 6 de proficiência em matemática, considerados os mais altos, quando os alunos ...
Apenas 1% dos estudantes no país conseguiram os níveis 5 ou 6 de proficiência em matemática, considerados os mais altos, quando os alunos resolvem problemas complexos, comparam e avaliam estratégias.
Menos de 50% dos alunos conseguiram nível mínimo de aprendizado em matemática e ciências - PEXELS
Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) foram divulgados nesta terça-feira (5), pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No ranking, o Brasil ficou no 65º lugar entre as notas em matemática, 53º em leitura e 61º em ciências, atrás de outros latino-americanos, como o Chile, Uruguai, México e a Costa Rica.
Apesar de o resultado não ter retrocedido em comparação ao levantamento anterior, em 2018, o desempenho dos estudantes brasileiros, medido pelo Pisa, continua ruim - a avaliação foi feita com 81 países, entre os que fazem parte da OCDE e nações convidadas.
Menos de 50% dos alunos conseguiram nível mínimo de aprendizado em matemática e ciências, por exemplo. Em 2022, o Brasil alcançou 379 pontos em matemática, 410 em leitura e 403 em ciências. Já em 2018, ano anterior avaliado, o desempenho foi 384 pontos em matemática, 413 em leitura e 404 em ciências.
“Os resultados médios de 2022 foram praticamente os mesmos de 2018 em matemática, leitura e ciências. Os resultados do Pisa têm-se mantido notavelmente estáveis durante um longo período: depois de 2009, nas três disciplinas, apenas foram observadas flutuações pequenas e, em sua maioria, não significativas”, diz o relatório sobre o desempenho dos estudantes brasileiros.
O QUE É O PISA?
Aplicado a cada três anos, o Pisa avalia os conhecimentos dos estudantes de 15 anos de idade nas três disciplinas. No total, 690 mil estudantes de 81 países fizeram os testes. No Brasil, 10.798 alunos de 599 escolas passaram pela avaliação. Na edição de 2022, o foco foi em matemática.
Com os resultados de 2022, o Brasil continua no grupo abaixo da média dos países da OCDE nas três disciplinas: 472 pontos em matemática, 476 em leitura e 485 em ciências.
Cada 20 pontos equivalem a um ano escolar. Em ciências, por exemplo, o Brasil está com pelo menos quatro anos de atraso em relação aos membros da OCDE.
Matemática
De acordo com o levantamento, 27% dos alunos brasileiros alcançaram o nível 2 de proficiência em matemática, considerado o patamar mínimo de aprendizado, enquanto que a média dos países da OCDE na disciplina é 69%.
Apenas 1% dos estudantes no país conseguiram os níveis 5 ou 6, considerados os mais altos, quando os alunos resolvem problemas complexos, comparam e avaliam estratégias. A média da OCDE é 9%. Dos 81 países e economias participantes do Pisa 2022, somente em 16 mais de 10% dos alunos atingiram o nível 5 ou 6.
“Os resultados colocam em evidência as desigualdades estruturais já existentes no Brasil. E mesmo que não haja uma correlação causal direta entre a aprendizagem e a desigualdade de renda no mundo, observamos que o Brasil é um dos países com maior desigualdade de renda e com baixa proficiência em matemática", avalia Esmeralda Macana, coordenadora do Observatório de Pesquisas em Educação e Cultura da Fundação Itaú.
"E dentro do Brasil, as desigualdades entre grupos de renda persistem, como podemos notar que os estudantes de alto nível socioeconômico superam em 77 pontos o desempenho dos estudantes mais vulneráveis", completou Esmeralda.
Leitura e Ciências
Quanto à leitura, metade dos estudantes no Brasil obtiveram o nível 2 ou mais. Apesar de melhor desempenho, o percentual ainda fica abaixo da média da OCDE, 74%. Nos patamares 5 e 6, o percentual foi de apenas 2%.
Em ciências, cerca de 45% dos alunos chegaram ao nível 2, contra 76% da média da OCDE. Os estudantes com melhor desempenho somaram apenas 1%.
Cenário global e pandemia
Em comparação ao Pisa de 2018, o desempenho médio nos países da OCDE caiu dez pontos em leitura e quase 15 pontos em matemática. Em ciências, a média ficou estável.
Conforme o relatório, estima-se que aproximadamente 25% dos jovens de 15 anos nos países membros da OCDE, ou seja 16 milhões, não atingiram o nível 2, ou seja, têm dificuldade em fazer cálculos com algoritmos básicos ou interpretar textos simples.
Em nações como a Alemanha, Islândia, os Países Baixos, a Noruega e Polônia, as notas em matemática caíram 25 pontos ou mais entre 2018 e 2022.
“Embora seja evidente que alguns países e economias têm desempenho muito bom na educação, o quadro geral é mais preocupante. Em mais de duas décadas de testes globais do Pisa, a pontuação média não mudou drasticamente entre avaliações consecutivas. Mas este ciclo viu uma queda sem precedentes no desempenho”, diz o relatório.
IMPACTOS DA PANDEMIA
De acordo com o levantamento, a pandemia de covid-19 causou impacto na educação dos jovens nesse período – com fechamento de escolas e adoção de aulas online - porém não pode ser apontada como única causa para o desempenho inferior nos países.
O relatório diz não ter identificado “diferença clara” nas notas de 2022 em razão do fechamento de escolas por mais ou menos de três meses na pandemia.
“A pandemia da covid-19 parece um fator óbvio que pode ter impactado os resultados nesse período. Na leitura, por exemplo, muitos países como a Finlândia, Islândia, os Países Baixos, a República Eslovaca e Suécia registraram estudantes com notas mais baixas durante algum tempo – em alguns casos durante uma década ou mais. As trajetórias educacionais foram bem negativas antes da pandemia chegar. Isso indica que as questões de longo prazo nos sistemas educativos também são culpadas pela queda no desempenho. Não se trata apenas de covid”.
A superintendente do Itaú Social, Patricia Mota Guedes, lembra que o Brasil foi o país onde as escolas passaram mais tempo fechadas em razão da covid-19, contabilizando 279 dias.
“No momento, o desafio é confirmar a tendência de crescimento na aprendizagem e, como alternativa para essa proposta, está a implementação do Sistema Nacional de Educação, que integrará as políticas e ações educacionais da União, Estados, Municípios e Distrito Federal”, disse Patricia.
LIDERANÇAS
Singapura liderou em matemática (575 pontos), em leitura (543 pontos) e em ciências (561 pontos), o que equivale que os estudantes têm de três a cinco anos de escolaridade a mais em comparação aos demais alunos dos países com a média da OCDE.
Em apenas quatro locais, houve melhora nas três disciplinas entre as avaliações de 2018 e 2022: Brunei Darussalam, Camboja, República Dominicana e Taipé chinês.
Da redação com informações da Agência Brasil